Rolou em 2011...
O gozo “das gentes diferenciadas”
Via Blog do Paraná em Nov 2011Essa semana entrará para a história no Brasil.
Na USP, o reitor João Grandino Rodas (aquele, indicado de José Serra,
que sequer teve a capacidade ganhar nas urnas) abriu de vez as portas,
mentes e corações da Universidade para a PM. O rito de passagem não
poderia ter sido outro: prisões, repressão truculenta, indiciamentos…400
policiais, 50 viaturas, helicóptero, Tropa de Choque, PM e Cavalaria
para desocupar 70 (isso mesmo!) estudantes que não ofereceram nenhuma
resistência.
No Senado, estudantes da Universidade de Brasília que protestavam
contra a aprovação do Código Florestal foram violentados e presos pela
polícia do Senado. Um deles foi atacado com uma arma de choques e
desmaiou. As imagens são fortes.
No Setor Noroeste – a sagrada terra especulada – a luta legítima de
indígenas pela permanência na terra que ocupam há anos é alvo do
preconceito racial da imprensa local e de parte da opinião pública que,
como se dona da discricionaridade para definir identidades, se recusa a
aceitá-los como indígenas para negá-los um direito fundamental garantido
pela constituição brasileira. Enquanto isso, os conflitos se acirram
na área.
Há algo de muito errado com esse país. Revertendo e negando qualquer
noção lógica bom-senso, o brado dos privilegiados fez-se ouvir nas
mídias sociais. Foi um tal de: ”bando de vagabundo” daqui, ”enfia a
porrada neles” de cá, “manda prender” de lá, e nos sorrisos de
satisfação triunfante, no prazer catártico da violência, a sentença
final: o ódio ao oprimido.
A discussão sobre as drogas e segurança pública, impregnada de ódio
de classe, recorre ao mesmo vocabulário. A moda é clamar para que os
capitães Nascimento salvem o Brasil do crime. Nesse texto, discuto a relação entre proibicionismo e violência no problema das drogas.
O fato é que temos percebido uma escalada conservador nas redes
sociais. Do torpe preconceito de classe destilado contra o ex-presidente
Lula ao ódio racista contra os índios do setor Noroeste em Brasília,
“as gentes diferenciadas” vomitam o que há de mais atrasado e
obscurantista no debate político. Qualquer semelhança com a agenda da
última campanha eleitoral não é mera coincidência. Impossível não
lembrar: a campanha irônica #votoserrapq mostrou que a brincadeira é bem séria.
Como bem lembrou o colega Bruno Cava: “O que mais impressiona na
repressão na USP foi a pulsão de morte da classe média paulistana, que
virou os olhinhos”. Triste! Aqui,
o diálogo imperdível de socialites paulistanas sobre a operação na USP.
Uma peça da comédia vida real. Segundo uma delas, “a polícia poderia
ter sido mais firme com esses meninos”.
Corrupção de prioridades
Tão tragicômico quanto é perceber que trata-se da a mesma juventude –
a minha geração – que ocupa as redes e ruas nas lutas contra a
“corrupção”. Claro, ninguém é contra “lutar pelo fim corrupção”, até
mesmo porque na falta de um programa ou medidas concretas para a
discussão, isso é tudo nada ao mesmo tempo. Mas a inferência fala por
si: as marchas da corrupção estão cheias dos invasores de condomínios de
luxo do Lago Sul, de “revoltados” contra a lentidão no trânsito por
conta das marchas do MST, contra o direito dos indígenas, dos sem-teto,
dos beneficiários de programas de transferência de renda, dos
homossexuais, mulheres e qualquer outra categoria que eles se negam a
denominar oprimido para imputar o rótulo de “privilegiados”, de
“aproveitadores”, numa inversão patológica de conceitos.
Mauricinhos e mauricinhas incentivados e aplaudidos pelos “analistas”
da mídia corporativa e por seus papais que ganham – em média – de 5 e
10 vezes mais que a massa dos trabalhadores brasileiros. De que
corrupção estamos falando, meus amigos? Onde estão os corruptores contra
os quais as faixas e frases de efeitos nas mídias sociais não se
levantam? Onde começa o processo de corrupção? O que desejamos com essa
luta? Onde foi a parar a luta contra a corrupção da fome, da
desigualdade de renda brasileira que bate níveis africanos?
Sei que há muitos de nós que defendem um outro mundo possível – mais
tolerante, mais justo, mais livre e pacífico. Está na hora que mostramos
que somos maioria.
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