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domingo, 15 de janeiro de 2012

Análise da cobertura do episódio do Santuário dos Pajés em Brasília.

Diferentes abordagens de um evento jornalístico

Carolina de Moraes Souza via midiaepolitica.unb.br

 


O artigo tem como objetivo apresentar uma análise crítica e comparativa de duas reportagens publicadas em jornais on-line, contrapondo as visões de um mesmo evento nos sites da Câmara dos Deputados e do Correio Braziliense.
O assunto tratado pelos veículos é a discussão em torno da construção do Setor Noroeste, em Brasília, em uma área conhecida como “Santuário dos Pajés”. A região é habitada por tribos indígenas desde 1975. A construção no local teve início em meio a muita polêmica, uma vez que manifestantes apoiadores da causa indígena impediram o início das obras. A partir daí, as construtoras recorreram à Justiça pedindo reforço policial para impedir que manifestantes e indígenas não atrapalhassem a continuidade das construções.
Para avaliarmos as reportagens é necessário o esclarecimento de alguns conceitos discutidos no jornalismo. Inicialmente, trataremos da impossibilidade de o jornalista ser totalmente imparcial no momento em que escreve a matéria. Pena (2007, p. 50) explica que o tema da objetividade jornalística pode ser relacionado à idéia de que os fatos são construídos de formas muito mais complexas, não sendo possível interpretá-los como a “expressão absoluta da realidade”.
Como a objetividade é um conceito relativo, podemos afirmar que todas as coberturas jornalísticas se diferenciam, ou seja, os fatos são reportados de diversas formas, dependentes da visão e do enfoque dado pelo jornalista. Assim, tentaremos pontuar as diferenças e semelhanças presentes entre as abordagens dos veículos.

Análise dos lides
Podemos analisar as reportagens a partir dos seus lides, presentes na estrutura básica da redação jornalística e que, segundo Jorge (2008, p. 226), corresponde ao “primeiro parágrafo do texto jornalístico, que traz as principais informações da notícia”. Já para Pena (2007, p. 43), o lide tem a função de “apontar a singularidade da história”. Essa singularidade afirmada por Pena é determinada por quem escreve a matéria e, dessa forma, o lide satisfaz não só a informação considerada mais importante, como também o enfoque dado à matéria.
Para tanto, examinaremos os lides das respectivas reportagens:
Câmara.gov: “Em audiência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, indígenas classificaram de ilegal a ação policial no Santuário dos Pajés, local de construção do  setor habitacional Noroeste, em Brasília. Segundo os participantes da audiência, centenas de policiais chegaram ao local na manhã desta quinta-feira para garantir que três empresas retomassem os trabalhos de construção do novo bairro.”
Correiobraziliense.com: “As obras no Setor Noroeste, que estavam paradas desde o dia cinco de outubro, devido às manifestações de índios e protestos de estudantes, foram retomadas por volta das 6h da manhã desta quinta-feira (03/11). De acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal, cerca de 80 policiais estão no local para garantir a segurança dos trabalhadores”.
Abordagens distintas
A abordagem escolhida pelo site da Câmara é institucional e visa informar e esclarecer a comunidade a respeito do envolvimento da Casa no embate entre os indígenas e manifestantes e as empresas construtoras dos prédios de apartamentos do Setor Habitacional Noroeste. O viés da matéria aborda a discussão sobre a probabilidade de ação ilegal da polícia contra os direitos humanos das minorias, no caso, os indígenas.
Já o texto do Correio Braziliense, por se tratar de jornal de grande veiculação na Cidade, tem o interesse de mostrar pelo lide maior quantidade de novas informações sobre o assunto, ou seja, as notícias anteriores sobre o caso ficam implícitas. É reportada a continuidade das obras do Setor Habitacional Noroeste, informação que interessa aos compradores atuais e futuros, às empreiteiras construtoras no local, como também ao mercado imobiliário de Brasília, do ponto de vista financeiro e econômico. Como o jornal em que foi extraída a notícia é um veículo de grande audiência, a abordagem tem público alvo definido e não possui o enfoque político verificado no texto da Câmara.
Confirmamos as observações acima pelo contraste dos títulos informativos das duas matérias. Na reportagem da Câmara, o título já parte do pressuposto que o local é um santuário indígena e sugere que ocorreu uso ilegal da força policial, fatos motivadores do envolvimento da Casa. Na informação noticiada pelo Correio Braziliense, o objetivo é o de comunicar o retorno das obras do novo bairro, contudo, deixando pontuado que ainda persiste a polêmica sobre a questão.
Pela análise das estruturas dos textos, com base em conceitos básicos de jornalismo, é possível perceber o objetivo do veículo que produziu a matéria, seu ponto central e os destinatários da notícia, sem que isso revele a parcialidade do jornalista. A construção da matéria, contudo, não deixa de ser a interpretação do autor sobre determinado fato. Como conclui Pena (2007, p. 51): “A notícia nunca esteve tão carregada de opiniões. E um dos motivos é justamente atender ao critério de objetividade que obriga o jornalista a ouvir sempre os dois lados da história”.

Referências  
JORGE, Thaïs de Mendonça. Manual do foca: Guia de sobrevivência para jornalistas. São Paulo: Contexto, 2008.
PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. 2. Ed. 1ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 2007.

Carolina de Moraes Souza é graduanda dos cursos de História (UnB) e Comunicação (Iesb)

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