Derrubando cercas e plantando mudas: um dia de vitória no Santuário dos Pajés
Via O Miraculoso
Hoje foi um dia muito
importante na luta contra os gafanhotos da especulação imobiliária. Nos
últimos dias os empreiteiros desmataram uma área considerável, dentro do
perímetro que se encontra sub júdice, pois sempre foi de uso dos índios que habitam aquelas terras há décadas, e que agora foram invadidas pela Emplavi.
Ceca
de paus com arame farpado, placas de ferro servindo como muros fincados
no chão e torres de vigilância era o que se via por lá hoje, além do
desmatamento. Um grande número de seguranças com cassetetes e armas de
fogo estavam no local. Mas nada disso foi suficiente para barrar o
ímpeto de dezenas de manifestantes, que enfrentaram cassetetes, jato de
mangueiras de caminhão, e nem se intimidaram com os cortes dos arames
farpados das cercas. Reassumimos a área invadida pela construtora,
derrubamos todas as cercas malditas, incluindo as de ferro e a torre de
vigilância e íamos botar fogo em tudo. Porém, foi feita uma trégua, em
razão da promessa de que a construtora não voltaria a por as cercas no
local. Depois de derrubarmos o lixo trazido pelos invasores, mudas foram
plantadas na terra, simbolizando a mudança, além do desejo de que
aquele lugar volte a ser o que era.
Assim
que o movimento tornou aquela área novamente acessível, um dos índios
presentes no ato entoou um canto, que começou com fortes gritos e tinha
uma letra de dor e de luta, e isso emocionou a muitos que estavam no
local, e pra mim reafirmou a certeza de que estávamos do lado certo da
guerra.
Somente
por causa do conflito com os seguranças do local, a mídia burguesa
bebedora de sangue compareceu ao local, e o assunto foi notícia no SBT, e
a Folha de São Paulo e o Correio estavam no local, mas pelo visto não
noticiaram nada. O MIRACULOSO tem estado presente acompanhando (e
intervindo) em todos os desdobramentos dessa guerra.
É uma
guerra. De um lado, os índios, que são donos dessas terras antes de
todos, há milênios, e a décadas vivem naquele lugar, e fazem um uso
sustentável de uma área que deveria ser reserva ecológica, e que os
tiveram até aqui como guardiões, e do outro lado o concreto, a
elitização intensificada, e a especulação imobiliária recordista no
Brasil. De um lado, bilhões em dinheiro e almas mesquinhas, do outro,
algumas dezenas de índios, de lutadores e sonhadores, movidos, no
mínimo, por um desejo de que Brasília escreva mais uma página dessa
história genocida que o Brasil escreveu e escreve até hoje.
Leonardo Ortegal é Assistente Social e membro da Equipe do Jornal O MIRACULOSO
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